Venho namorando a ideia de fazer resenhas de livros e filmes (quiçá jogos) aqui para o blog tem um tempão, mas até agora nada. Eu pensava que era por falta de força de vontade e vergonha na cara. Recentemente descobri que não é bem assim… Eu tenho medo de dar minha opinião. Opinião sincera, sabe? De dizer que uma obra não é boa.

Bem, isso mudou. Eu descobri o quanto é bom me expressar para quem quer ouvir.

 A resenha que trago hoje é a primeira de muitas, ou assim espero. Vamos falar sobre O Inverno das Fadas de Carolina Munhóz, publicado pela LeYa em 2012. Aviso que haverá spoilers, então quem pretende ler o livro, pare de ler agora.

 O livro nos conta sobre Sophia Coldheart, uma fada-amante que precisa da devoção e adoração humana para sobreviver. Neta do governador de um dos muitos reinos de Annwn, a dimensão das fadas, ela leva a vida de uma princesa féerica que visita a Terra para ter relações amorosas e recarregar as energias. Começamos a conhecer Sophia num momento turbulento, sua última caça aconteceu há muito tempo e suas energias começam a se esgotar a ponto de pôr sua vida em perigo. Ao mesmo tempo, sua mente se conecta com a de William Bass, um jovem prodígio na escrita que sonha em se tornar um escritor famoso. Morador de Keswick, uma pequena cidade inglêsa, ele leva a vida administrando o sebo da família, depois de salvá-lo da falência. Os dois se conhecem no Sahmain, mais conhecido como Halloween, e passam a noite juntos, conversando à beira de um lago. Esse é o iníco da relação amorosa e obsessiva entre eles e ponto central do livro.

Enquanto William e Sophia se relacionam, a fada o inspira a escrever um livro para um concurso literário em que ele participa como representante da cidade. Constantemente assediada por dúvidas em relação ao que tem que fazer e aos seus sentimentos, Sophia se isola de seus iguais para viver o amor impossível com Will, consciente de que isso o matará. Também somos apresentados a alguns dos antigos casos da fada no decorrer da história, conforme as lembranças ressurgem na mente de Sophia.

Buscando juntos uma maneira de impedir que a relação acabe em morte, eles enfrentam a oposição de suas famílias e amigos. Enquanto Sophia se fortalece cada vez mais com a paixão de Will, ele adoece e fica cada vez mais fraco. A história se conclui quando William encontra e atravessa o portal que divide os mundos para ficar com Sophia em sua dimensão.

 

Enquanto eu lia, percebi que a direção da história não foi a que eu esperava. A primeira coisa que me incomodou foi o fato de Sophia não gostar de caçar. Ela se sentia mal por tirar a vida dos outros para sobreviver. A explicação dada para isso é o fato de os pais dela terem se amado e morrido por esse amor proibido, mas a questão vai além disso porque Sophia nunca conheceu os pais. Ela foi criada pelo avô e rodeada de pessoas que apoiavam a natureza dela. Teria sido mais interessante ver ela chegar a esse incomodo em relação ao fato de ser uma predadora depois da relação com William, não antes.

Outra coisa é o fato de William ser retratado como “diferente dos outros”, com uma conotação quase mágica, quando ele não passa de um humano normal. Ele não é mais resistente que o normal aos encantos da fada e as atitudes dele que surpreendem Sophia não são tão diferentes de alguns dos outros romances que ela teve e que são demonstrados no livro.

Tem outras coisas no livro que me incomodaram, como o uso excessivo de pontos de exclamação na fala do narrador e a mistura de discursos indiretos de vários personagens num mesmo parágrafo, mas isso é uma opinião mais pessoal e, eu diria, quase implicante da minha parte.

Por último, o final em nada satisfaz. O livro todo mostra o casal buscando uma forma de ficar junto sem a sombra da morte e, apesar de Banshee, a fada da morte, ter sido derrotada no livro, não há nada que indique que os poderes de Sophia deixaram de fazer efeito em Will. Ainda assim, o livro nos dá um final feliz sem explicar como é possível que o humano sobreviva à exposição aos poderes da fada.

Minha conclusão é que o livro tinha potencial, poderia ter retratado um amor obsessivo muito mais interessante, eu fiquei decepcionada. Esperava mais.