Ela estava sempre com um livro nas mãos, sentada pelos corredores, visitando mundos distantes. Gostava de se perder na imaginação, era seu jeito para se sentir livre. Lembro que ela sonhava que podia mudar o mundo com sua caneta. Se a procurar, talvez ainda a encontre perdida num canto do quarto, com um livro na mão e um sorriso no rosto.
Olhava em volta e sabia exatamente o que fazer, na sua certeza ingênua. Organizava as brincadeiras nas festas e na escola, deixava que a obedecessem. Gostava de ver suas ideias tomarem vida. Como era fácil fingir que o mundo não existia.
Ela queria sempre agradar. Não suportava pensar que seria rejeitada. Morria de medo de fazer algo errado, chatear alguém. Ela se fechou em seu mundo inventado. Ali era seguro. Seguro até se olhar no espelho. Não havia ninguém para julgá-la, mas sempre foi seu pior juiz, não é mesmo?
Ela se perdeu em si mesmo e cresceu fugindo do espelho. Seus mundos encantados eram faz de conta, se tornaram muralhas que a mantém longe dos olhares que podem cortá-la como facas. Não há espelhos em sua imaginação.
Deixou seus sonhos espalhados pelo quarto, com a promessa de não esquecê-los. Lembrança constante de que ainda não os alcançou. Passou tanto tempo mergulhada em si própria que agora precisa aprender a se desapegar da cobrança que internalizou.
Onde está a garota que queria mudar o mundo com sua caneta? Não devia tê-la deixado para trás.