Capítulo 3
Nunca esperei que recuperar o que me foi tirado fosse uma tarefa simples, fácil. Sabia que exigiria um esforço sobrehumano, mas eu sou sobrehumana… Mas eu não estava preparada para a jornada de autoconhecimento que me esperava, espreitando pelas sombras. Iria enfrentar a mim mesma, provavelmente num embate mortal.
Caitlyn era uma modelo famosa, cercada por bajuladores e intrigas. Ela se sentia confortável naquele mundo superficial, onde as aparências escondem cobras esperando para dar o bote. Era o seu habitat natural e teria sido o meu.
Minha vida, meu nome e existência enquanto ser humano agora pertenciam a um ser tão alienígena quanto eu. E ainda assim, ela era parte de mim. Adimitir isso foi difícil, levou mais tempo do que seria sensato. Eu decorei sua rotina e ela olhava por sob o ombro, nervosa.
A primeira vez que me aproximei, ela esperava por mim. Quis saber se eu ia matá-la, mas ela não queria morrer. Ela chorou e implorou e foi falso, eu sabia disso, ela manipulava todos. Mas ainda assim, era meu rosto chorando, a minha voz implorando. Minha alma ansiava por liberdade. E eu fui embora para nunca mais voltar.
Quem efetivamente devolveu minha vida foi um amigo que me devia um favor. Forjando um acidente de carro, ele a sequestrou e matou. E eu recebi minha vida de volta ao entrar nos destroços.
Viver como Caitlyn era estranhamente familiar e recompensador. Ela ganhara fama para mim, mas eu era melhor que ela nisso, mais bela e carismática. O que eu precisei aprender, e rápido, foi a manipular as pessoas com frieza e crueldade para não ser derrubada por uma realidade que nunca foi minha. E eu percebi que por mais que aquela vida fosse minha por direito, ela sempre seria mais da Caitlyn que eu destruí.
Enquanto tentava balancear minha existência dúbia e sobrenatural com minha existência passada e humana, eu visitei minha filha. Minha agente foi contra, meu advogado também; meu coração ansiava por aquele momento e meus amigos apoiaram relutantes a minha decisão.
Meu ex-marido, e é estranho se descobrir divorciada quando sua mente ainda está em meio à uma paixão interrompida, tentando se convencer de que sabia o que fazer, ele era uma figura que me causava ansiedade. Foi um encontro desconfortável.
A humanidade que me fora arrancada tentava retomar seu canto em meu ser e era bloqueada pela minha nova natureza e, por isso, sei que ele percebeu que eu não era aquela com quem ele casou e de quem ele se separou.
Eu precisava convencê-lo a confiar em mim. Não fazia questão de ter seu amor de volta, eu sabia que seria impossível retomar o passado, nós dois mudamos com o tempo. Então eu soube que precisava dizer a verdade, mostrar a ele o que eu havia me tornado e encarar lembranças que assombravam meus sonhos.
Em uma promessa que me foi ensinada pelos meus iguais, eu o envolvi e mostrei a essência sobrenatural que exalava de mim. Era sutil ainda, mas perceptível mesmo assim. Ele cambaleou e me deixou entrar. Eu passei o dia com meu bebê, Evelyn, a lembrança que me trouxera de volta do pesadelo mais lindo e enebriante que eu jamais teria novamente.