— Syaoran vai me deixar em casa toda vez que eu sair tarde e prometeu tomar cuidado. – começou Sakura – Mas ainda sinto que meu sonho vai acontecer. E isso só piora com a coisa estranha que aconteceu hoje…

Tomoyo prestava atenção e Kero comia um pedaço de bolo enquanto ouvia. Sakura contou sobre o encontro com Leone e como aquilo a deixara perturbada. Não conseguia entender porque se sentira atraída por ele tão logo o vira. Kero, porém, tinha uma teoria:

— Lembra quando você se tornou uma Card Captor? – ele esperou até ela acenar com a cabeça antes de continuar – Você também se sentiu atraída pelo Yue, até aquele moleque foi atraído por ele. Isso aconteceu porque Yue é um ser mágico, assim como eu e, até eu, dormindo no livro, exerci certa atração pra você. Sua magia cresceu, então sua habilidade de reconhecer a magia alheia cresceu junto. O novato pode ter pouco poder, já que se fosse algo perceptível a qualquer um, eu teria sentido, mas você já é experiente o suficiente para notá-lo. E quando você sente magia, você se sente atraída por ela.

Tomoyo concordou com o guardião e Sakura também achou que era plausível, então se deixou aliviar um pouco. Mas não muito. O sonho ainda se tornaria real e o fato de Leone ser um mago, mesmo que fraco, a preocupou.

 

Leone passou a primeira semana sondando seu alvo. Precisava conhecer a rotina dela para escolher o melhor momento de colocar seu plano e ação. Como tinha escolhido aquela faculdade justamente por ela estudar lá, sabia que a veria constantemente, o que lhe permitiria uma aproximação sutil, mas mesmo assim, precisaria saber em que momentos do dia ela estaria vulnerável e longe da presença de outras pessoas.

Ele a via nas aulas e depois pegava um carro alugado (que trocava por semana) e a seguia durante o resto do dia. Descobriu que ela passava bastante tempo na faculdade durante a semana, saíndo a noite com os amigos para se divertir apenas na sexta-feira e no fim de semana. Também percebeu que a colega de apartamento dela costumava chegar mais tarde todo dia, o que lhe dava uma janela de duas horas para entrar no apartamento e roubar-lhe a alma; o problema era o namorado. Ele sempre pegava a garota na faculdade e a levava em casa, ficando lá até quase o momento em que a amiga chegava. Teria que cuidar dele para que tudo ocorresse conforme planejado.

Ficou imaginando milhares de maneiras de se livrar dele. Um assassinato não parecia um problema, depois que se está determinado a roubar a alma de alguém. O que realmente o perturbava era a grande possibilidade de o ligarem ao crime e isso não seria nada bom. Se tivesse todo o tempo do mundo, estaria mais tranquilo, porém sua irmã precisava daquela alma o quanto antes. Ficava inquieto e nervoso ao imaginar que não conseguiria cumprir a missão que viera realizar.

 

— Eu sinto! Tem alguém me seguindo, Syaoran, temos que fazer alguma coisa! – Sakura já se sentia assim há algum tempo. A certeza de que tudo aquilo estava relacionado ao seu sonho só a deixava mais nervosa, por um segundo, ela imaginou que pudesse ser Leone, mas as semanas que passou convivendo com ele na faculdade amenizaram a suspeita da primeira impressão e o pensamento sumiu sozinho, além disso, ele morava com Syaoran e, se fosse tentar alguma coisa, já teria feito.

— O que podemos fazer? E se esse suposto perseguidor for um humano comum? Não podemos simplesmente usar nossa magia nele! – o garoto começou a argumentar. Claro, o fato de o perseguidor ser humano não fazia diferença, Sakura ainda estaria em perigo se ele realmente existisse – Quer que eu mude pra cá? Posso combinar com o Leone, acredito que ele não vá se importar.

— Afinal de contas, quem é esse Leone, que eu nunca vi? – Tomoyo era a única a não ter encontrado com o aluno novo – Traz ele aqui algum dia, Syaoran.

— Sakura, eu vou conversar com o Leone. Durmo aqui até você se sentir mais segura. – e ele virou para Tomoyo – Isso é pra sua segurança também, se alguém arrombar o apartamento com vocês duas sozinhas aqui, mesmo que o alvo seja a Sakura, você também não vai estar segura. E eu falo com o Leone pra ele passar aqui e conhecer você.

Eles continuaram a conversar durante mais algumas horas. Sakura foi se acalmando aos poucos, mas não totalmente. Ela ainda queria achar alguma forma de mudar o futuro. Por algum motivo, ainda sentia que o sonho se tornaria real mais cedo ou mais tarde.

 

Leone começou a se desesperar conforme os dias iam passando. Não podia enfrentar nenhum dos dois, iria perder. Mas precisava ajudar sua irmã e sua impotência o feria. Chegou a considerar desistir e encarar a realidade. Chorou e esperou que o desespero passasse, ainda estava determinado.

— Sabe, há algumas maneiras de se livrar dos dois sem atraír suspeitas para você.

— Quem está aí? – o italiano se assustou. A voz que ouvira era límpida e firme, com um tom de deboche que aguçava a curiosidade. Mas ele não podia ver de onde ela viera.

— Só um espírito perdido que sabe como ajudar…

Os dois conversaram naquela noite. Planejaram como iriam roubar a alma tão especial que estava alojada em Sakura Kinomoto. Aquele estranho espírito não se identificou, apenas disse que era um mago há muito entediado e que queria um pouco de diversão. Leone não se importou muito com o pouco que seu novo amigo lhe contou, estava mais interessado em terminar logo o que viera fazer e sabia que não conseguiria sem ajuda.

 

Foi num dia quente, atípico no outono, que os quatro se encontraram para se divertir. Foram ao parque da cidade. Tomoyo seria apresentada a Leone e todos iriam passar o dia relembrando os bons tempos da infância que passaram lá. Chiharu e Yamazaki esperavam por eles lá, assim como Rika e Naoko. Todos se divertiram bastante e até o novato conseguiu se enturmar relativamente rápido.

Logo entardeceu e a idéia de uma boate foi apresentada por Yamazaki. Ele chegou a contar alguma coisa sobre as origens desse tipo de diversão na Era Meiji, mas Chiharu logo cortou. Tomoyo adorou a idéia, as outras garotas também se animaram. Sakura, porém, não quis ficar na rua até tarde e se despediu do grupo, levando Syaoran com ela.

Ela sentira uma ameaça e precisava investigar.