Sarye estava encolhida na cama, usando o lençol para se proteger do escuro. O vento uivava, assobiando por entre as frestas da madeira. A chuva forte inundava o lugar com o cheiro de terra molhada. A menina sabia que estava sozinha em casa, Ikne tinha saído para caçar e só voltaria com comida. Isso podia demorar dias. Essas viagens não eram incomuns, mas sempre tinha Zymne para lhe fazer companhia. Hoje, não havia ninguém.

Um barulho forte a fez soltar um grito de susto e medo e a porta do quarto, agora aberta, bateu com força ao ser empurrada pelo vento. E se eles estivessem lá fora? Não havia ninguém para protegê-la ali. O breu era total, Sarye não enxergava nada além dos joelhos que mantinha grudados ao peito. Outra porta bateu ao longe… Se fosse a porta de entrada, eles poderiam entrar. Engoliu em seco enquanto juntava coragem para sair da cama.

Um pé depois o outro. Era simples, fácil. O vento balançava as árvores e a terra molhada abafaria o som de passos, se alguém estivesse por perto. Um pé depois o outro. Sarye já estava na sala e podia sentir o ar gelado e as gotas de chuva que entravam pela porta aberta. Um pé depois do outro. Um trovão caiu próximo, ensurdecedor. O clarão iluminou a noite e a menina começou a chorar. Correu o mais rápido que seus pézinhos permitiam para fechar a porta.

 

Ikne chegou pela manhã e encontrou a pequena dormindo contra a porta.