Meu nome é Aline. Minha mãe diz que significa graciosa, mas não sei se acredito nela. Não sou graciosa. Nem elegante. Minhas amigas dizem que eu não cresci, ainda tenho cara de criança. Elas me acham fofa… Eu não. Elas não percebem o que eu já vivi. A tristeza que mora no fundo dos meus olhos, que me dá feições muito mais adultas do que elas são capazes de perceber. Ele percebeu… E me ajudou. Eu o amei. Eu o perdi. Minha vida foi uma mistura de alegria e dor. Se eu começar do início, vocês vão entender.

Há 15 anos, e eu lembro muito bem, eu estava brincando no jardim com o Érik e a Elisa, gêmeos amigos meus (Eles não cresceram… Como poderiam?),quando minha avó veio correndo em minha direção, ela tinha uma expressão que me pareceu engraçada na época, apesar de o medo nos olhos dela ser visível. Hoje, posso dizer que ela tinha chorado antes de me pegar no colo e me levar pra dentro de casa. Fui abraçada forte, havia medo em todos os movimentos dela e, mesmo com apenas 3 anos, eu pude senti-lo. Acenei adeus para meus amigos. Elisa se inclinou e cochichou alguma coisa ao ouvido do irmão. E assim eles desapareceram. Eles voltariam.

Na sala, vi meu pai com a cabeça apoiada nas mãos e uma cara de desespero, olhei em volta, mamãe ainda não tinha voltado. Estava errado. Mamãe não estava lá, estava errado. Minha avó me pôs no chão. Eu andei devagar até alcançar a manga da camisa de papai e puxá-la.

— Cadê mamãe? – eu lembro de ter perguntado. Mas ele não respondeu. Apenas me abraçou forte e murmurou no meu ouvido: “Vai ficar tudo bem.” Anos depois eu fui entender que ele disse aquilo mais pra ele do que pra mim.

Tudo aconteceu muito rápido. Em um minuto, minha mãe sorria pra me colocar pra dormir, no outro, ela estava desaparecida. Mas olhar pro rosto desesperado de papai me impediu de chorar. Como se eu tivesse que ser forte para que ninguém mais chorasse. À noite, minha avó ficou comigo, pra que eu não ficasse sozinha. Papai tinha saído pra procurar minha mãe.

As semanas passaram como se nunca tivessem existido. Érik e Elisa apareciam todo dia para me dar apoio, a gente ficava conversando por horas. Eu perguntava pra eles se eles tinham visto a mamãe lá onde eles moram. Eles sempre respondiam negativamente e eu ficava feliz. Até uma noite.

Vovó entrou no meu quarto com uma expressão mais engraçada que quando ela foi me dizer que minha mãe sumira. Ela parecia feliz… e preocupada.

— Vem, vamos tomar um banho pra você ficar bem cheirosa pra sua mãe. – aquelas palavras me fizeram pular de alegria, tinham encontrado mamãe, agora tudo voltaria ao normal.

Fomos pro hospital. Aquilo me assustou. Mamãe não deveria estar ali, aquele era um lugar pra gente doente, não pra mamãe. Vovó e vovô me levaram até um dos quartos. Minha mãe estava deitada na cama, com o rosto tranquilo e pálido. Parecia que ela estava dormindo…

— Ela ainda não acordou? – ouvi vovó perguntar aos cochichos ao meu pai, ele apenas balançou a cabeça negativamente. Então, vovó virou pra mim – Vai até lá, dê um beijo nela, tenho certeza que ela está com muita saudade de você. – Ela disse isso com um sorriso. Triste, mas ainda assim, um sorriso que me encorajou a chegar perto da cama e de papai.

Dei um beijo na bochecha e falei:

— Acorde logo, mamãe, estou com saudades. – Isso fez meu pai me abraçar forte, sem soltar a mão de mamãe.

— Vem brincar. – Elisa chamou. Eu sai da sala, deixando os adultos conversarem e fui brincar com os gêmeos.

Um mês depois, minha mãe morreu.

Ela tinha aberto os olhos apenas uma vez nesse tempo todo e estava tão fraca que nem conseguiu se erguer da cama pra me abraçar. Mamãe passou três semanas no hospital e a última semana em casa, com meu pai. Eu estava na casa da vovó.

Na noite em que ela morreu, ela me deu boa noite, beijou minha testa e me disse que estaria sempre ali, me protegendo. Eu não a vejo sempre, mas toda vez que eu chamo, ela aparece.

No enterro, papai estava chorando tanto que nem me deu chance de falar pra ele que a mamãe estava parada do lado dele, pedindo pra ele parar de chorar e abraçando ele bem forte.